quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Quênia no Neocolonialismo


Os jornais do mundo inteiro noticiam de forma acrítica a barbárie no Quênia e não buscam as raízes históricas de mais uma tragédia africana.

Os conflitos étnicos que explodem na África de tempos em tempos são a herança maldita do neo-colonialismo europeu praticado a partir da segunda metade do século XIX.

As potências capitalistas européias viviam a segunda revolução industrial e precisavam de mercados fornecedores de mão de obra barata, matérias-primas e consumidores de manufaturados. Usaram como argumento ideológico para justificar o Imperialismo a chamada “missão civilizatória” e o darwinismo social.
Repartiram a África sem levar em consideração as diferenças históricas e culturais entre as etnias e estimularam as rivalidades étnicas para facilitar a dominação.

Com a descolonização, ocorrida principalmente após a Segunda Guerra, esses conflitos vieram a tona. Ontem foi Ruanda, hoje é no Quênia. Mas a responsabilidade não é apenas queniana é mundial. A ONU tem um papel importante a cumprir e não pode ser nem omissa e nem covarde.


O presidente do Quênia, Mwai Kibaki, pertence à etnia kikuyu, mais numerosa e instalada ao redor do Monte Quênia, na província central. Nela, o presidente que buscava a reeleição obteve mais de 90% dos votos. O chefe da oposição, Raila Odinga, que acusa o chefe de Estado de ter fraudado a eleição, é oriundo da etnia Luo, a segunda mais importante do país, implantada às margens do lago Victoria. Nesta província, o chefe da oposição também levou 90% dos votos.


O pertencimento étnico é um fator-chave da política e da geografia eleitoral quenianas e contribui para aumentar o ódio e a violência. Isso se traduziu, mais uma vez, nos resultados da eleição presidencial, cujo resultado divulgado no domingo deflagrou conflitos, imediatamente, em todo o território.

Rivalidades ancestrais opõem Luos e Kikuyus, e perduram desde a independência, da Grã-Bretanha, em 1963. Os Kikuyu têm um papel dominante, política e economicamente, no país desde esta data, o que suscita frustrações nas outras etnias.
Tais frustrações contribuíram para fomentar os sangrentos confrontos que abalam o país. Assim, na maior favela de Nairóbi, Kibera, habitada majoritariamente por Luos, barracos e casas pertencentes aos Kikuyus foram incendiados, de acordo com testemunhos ouvidos pela AFP.

Em outro canto da capital, em Matahare, onde moram, sobretudo, Kikuyus, foram os Luos que se tornaram alvo da fúria dos revoltados.

De qualquer modo, o fator étnico não é o único que importa. A extrema miséria que reina nas grandes favelas da capital faz destes lugares um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento.

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